sexta-feira, 15 de maio de 2015

Meu primeiro vôo internacional

Em 2005 fiz uma ficha em uma agência de empregos para ir trabalhar no Japão. As coisas não estavam muito boas para mim e acabei indo. No aeroporto, me encontrei com o resto do grupo, cada um pegou a sua pastinha com as passagens e etc, recebemos algumas instruções e embarcamos.O avião partiu de Guarulhos às 13h. Meu assento era ao lado da janela. Na parte de trás do assento da frente, uma telinha interativa com filmes, joguinhos, músicas, etc. Havia um controle remoto com fio que encaixava no descanso do braço. Por ele dava para escolher as opções de lazer do sisteminha de entretenimento. Havia também uma opção de visualização no mapa em tempo real, além de uma câmera na frente do avião que não dava pra ver porra nenhuma além de nuvem porque o sisteminha desligava durante a decolagem e pouso.
Era tipo assim, só que os jogos eram estilo Tetris.

Fiquei assistindo filmes, a galera não era muito animada para papo (inclusive eu) e acho que muitos estavam apreensivos com a nova vida que levaríamos e também com o vôo, que seguiu com destino à Milão. Tentei curtir ao máximo o tempo no avião, saborear as comidas, etc. Não consegui dormir e fiquei com vergonha de pedir algo para beber, o que foi uma grande besteira, pois está incluso no vôo e uma hora começa a rolar um desconforto, você quer dar uma esticada nas pernas, tirar o tênis, dar uma peidada, essas coisas. Além disso, eram poucos os filmes legendados em português. Mas foi tranquilo o vôo. Chegando lá, esperamos por sete horas para fazer a conexão para  Narita com Nagoya como destino final.
Durante esse tempo, ficamos em uma área do aeroporto aonde era proibido fumar. Fui dar uma mijada e notei que o banheiro era cheio de bitucas. Na época eu fumava e dei uma fumadinha só para aliviar a tensão. Fora do banheiro, observei através do vidro o aeroporto, a pista de pouso ou decolagem, os veículos que operavam naquela área, os trabalhadores, os aviões, etc. Todos os carros que eu vi eram Fiat. Dentro do aeroporto havia um carro de F-1 da Ferrari feito de lego.
Não me lembro que horas saímos de Milão, sei que sentei novamente ao lado da janela. Estava louco para assistir algo diferente, de preferência legendado. Mas não. Os filmes eram exatamente os mesmos do outro avião. Tinha levado comigo o livro On The Road, do Kerouac,  mas não estava conseguindo me concentrar na leitura, que nada tinha a ver com o Japão. Deixei rolando uns filmes até chegarmos em Narita. Não dormi.



Barulho de gente chupando macarrão


Descobri que nos aproximávamos do Japão quando ouvi um barulho de gente chupando macarrão como se fosse numa gincana. Era a pessoa do assento de trás comendo da maneira que se come por lá:



Chegamos em Narita, todo mundo cansado bragarai. Ali deu pra sentir uma diferença mais forte em relação ao Brasil do que quando passamos pela Itália. As pessoas, o idioma, as coisas. Havia um local para fumantes em uma área externa do aeroporto, mas quando a porta automática que acessava esse local se abriu, senti o ar quente do verão japonês. Um mormaço nervoso. Até desisti de fumar. Era Agosto.
Uma irmã minha foi me receber no aeroporto e fazer companhia até sair o vôo que finalmente nos deixaria em Nagoya. Batemos um lamen e ela disse que eu iria me surpreender quando visse o banheiro. Entrei, mas não vi nada de mais. Demoraria alguns dias até eu conhecer a motoquinha.


No último vôo fui também sentado ao lado da janela. No total foram três janelas, do lado esquerdo. Sinal de sorte, pensei. Sou canhoto e na verdade, esse pensamento me surgiu agora, he, he.
Dormi durante uns vinte minutos apenas e então chegamos, após longas vinte e tantas horas, com a bunda quadrada dos bancos dos aviões e saguões. Finalmente. Depois foi só encontrarmos o tiozinho com cara de cansado que veio nos buscar no micro-ônibus da empreiteira, pegarmos as malas,  partirmos para o escritório deles para agendarmos quando passaríamos lá novamente para acertarmos os detalhes do serviço, documentação, etc, e também para aqueles que fossem se alojar nos apartamentos da empresa pegarem as chaves dos apartamentos, futons, etc. Nunca mais vou me esquecer do disco do Legião "Acústico MTV", que eu já não gostava e passei a detestar, pois foi a trilha sonora durante boa parte do nosso caminho do aeroporto até o escritório, especialmente aquela música "Hoje à noite não tem luar", esse sonzinho estraga qualquer clima, putz, que sonzinho bosta, mano. Chovia quando cruzamos a ponte que liga o aeroporto de Narita, que é uma ilha artificial, à Nagoya.